A História de Romeu e Julieta de Portugal

[vc_row][vc_column][vc_column_text css=”.vc_custom_1561661897376{margin-bottom: 0px !important;}”]

Inês de Castro – a história de Romeu e Julieta de Portugal.

Quem foi INÊS DE CASTRO?

Bom, acredito que já tenha ouvido falar nesse termo na sua família no Brasil: INÊS É MORTA! Sim, a maioria dos brasileiros já ouviram e nunca se perguntou o porquê Inês, e não Maria, Joana, Rita, etc… Mas sempre soubemos o significado, não é mesmo?

Inês é morta

É uma expressão da língua portuguesa e significa “não adianta mais“. Hoje em dia a frase é usada para expressar a inutilidade de certas ações.

Muitas vezes esta expressão completa é “Agora é tarde, Inês é morta“, o que indica que é tarde demais para tomar alguma atitude a respeito de algo.

A história segundo – Os Lusíadas

Inês de Castro é um episódio lírico-amoroso que simboliza a força e a veemência do amor em Portugal. O episódio ocupa as estâncias 118 a 135 do Canto III de Os Lusíadas e relata o assassinato de Inês de Castro, em 1355, pelos ministros do rei D. Afonso IV de Borgonha, pai de D. Pedro, seu amante.

É narrado, em sua maior parte, por Vasco da Gama, que conta a história de Portugal ao rei de Melinde. Considerado um dos mais belos momentos do poema, é a um só tempo um episódio histórico e lírico: por trás da voz do narrador, e da própria Inês, percebe-se a voz e a expressão pessoal do poeta. Camões, através da fala de Vasco da Gama, destaca do episódio sua carga romântica e dramática, deixando em segundo plano as questões políticas que o marcam.

Fernão Lopes, Garcia de Resende e Antônio Ferreira já haviam explorado, em prosa, em verso e no teatro, respectivamente, a figura histórica de Inês Pires de Castro:

Dom Pedro, Príncipe de Portugal, filho do Rei Afonso IV, era casado com D. Constança, mas se apaixonara por Inês de Castro, dama de companhia de D. Constança e filha ilegítima de um nobre português. Com a morte de D. Constança, Inês foi morar em Coimbra às margens do Rio Mondego e D. Pedro, futuro Rei de Portugal, viúvo, queria selar seu amor com Inês fazendo dela sua rainha.

O Rei Afonso IV temendo pela sucessão do trono que seria seu neto, filho de Constança e pela influência dos nobres que temiam uma influência castelhana, tenta resgatar o filho e conduzi-lo a um casamento que obedecesse não aos caprichos de cupido, mas às conveniências políticas de Portugal. Para isso, vendo como única saída, o Rei manda vir Inês para que seja executada. Os terríveis verdugos trouxeram Inês e seus filhos perante o Rei. Depois de ouvir a sentença, Inês ergueu os olhos aos céus e disse:

Até mesmo as feras, cruéis de nascença, e as aves de rapina já demonstraram piedade com as crianças pequenas. O senhor, que tem o rosto e o coração humanos, deveria ao menos compadecer-se destas criancinhas, seus netos, já que não se comove com a morte de uma mulher fraca e sem força, condenada somente por ter entregue o coração a quem soube conquistá-lo. E se o senhor sabe espalhar a morte com fogo e ferro, vencendo a resistência dos mouros, deve saber também dar a vida, com clemência, a quem nenhum crime cometeu para perdê-la. Mas se devo ser punida, mesmo inocente, mande-me para o exílio perpétuo e mísero na gelada Cítia ou na ardente Líbia onde eu viva eternamente em lágrimas. Ponha-me entre os leões e tigres, onde só exista crueldade. E verei se neles posso achar a piedade que não achei entre corações humanos. E lá, com o amor e o pensamento naquele por quem fui condenada a morrer, criarei os seus filhos, que o senhor acaba de ver, e que serão o consolo de sua triste mãe.”

Comovido com essas palavras, o Rei já pensava em absolver Inês, quando os verdugos, que defendiam a execução, sacaram de suas espadas e degolaram Inês.

Isso aconteceu em 1355 e diz a lenda que D. Pedro, inconformado, mandou vestir a noiva com roupas nupciais, sentou o cadáver no trono e fez os nobres lhe beijarem a mão, daí falar-se que “a infeliz foi rainha depois de morta”.

Na verdade, D. Pedro manda transladar o corpo de Inês do mosteiro com pompas de rainha para o mosteiro de Alcobaça em 1361, quando já era rei.

Qual a Origem? Você sabe? Quem foi de fato Inês de Castro?

Dona Inês de Castro, fidalga galega de reconhecida e requintada formosura, chega a Portugal em 1340 integrada na corte de D. Constância de Castela.

Inês de Castro nasceu na Galiza entre os anos de 1320/1325 e morreu em Coimbra no dia 7 de janeiro de 1355, foi a rainha póstuma de Portugal, amada pelo futuro rei D. Pedro I de Portugal, de quem teve quatro filhos. Foi executada por ordem do pai deste, o rei D. Afonso IV.

Inês de Castro

Ines de Castro

A História da sua Vida!

D. Inês de Castro era filha de D. Pedro Fernandes de Castro, mordomo-mor do rei D. Afonso XI de Castela, e de uma dama portuguesa, Aldonça Lourenço de Valadares. O seu pai, neto por via ilegítima de D. Sancho IV de Leão e Castela, era um dos fidalgos mais poderosos do Reino de Castela.

Em 24 de Agosto de 1339 teve lugar, na Sé de Lisboa, o casamento do Infante Pedro I de Portugal, herdeiro do trono português, com D. Constança Manuel, filha de D. João Manuel de Castela, príncipe de Vilhena e Escalona, duque de Penafiel, tutor de Afonso XI de Castela, e neto do rei Fernando III de Castela.

Todavia seria por uma das aias de D. Constança, D. Inês de Castro, que D. Pedro viria a apaixonar-se.

D. Pedro I e Inês de Castro nos Campos do Mondego

Este romance notório começou a ser comentado e a ser mal aceite, pela corte, que temia a influência castelhana sobre o infante Pedro, e pelo povo.

Como seu relacionamento era mal visto, passaram a encontrar-se às escondidas na antiga Vila do Jarmelo na Guarda e depois nos Campos do rio Mondego.

Sob o pretexto da moralidade, D. Afonso IV não aprovava esta relação, não só por motivos de diplomacia com João Manuel de Castela, mas também devido à amizade estreita de D. Pedro com os irmãos de D. Inês – D. Fernando de Castro e D. Álvaro Perez de Castro. Assim, em 1344, o rei mandou exilar D. Inês no castelo de Albuquerque, na fronteira castelhana, onde tinha sido criada por sua tia, D. Teresa, mulher de um meio irmão de D. Afonso IV.

No entanto, a distância não teria apagado o amor entre Pedro e Inês, que se correspondiam com frequência.

Em Outubro do ano seguinte D. Constança morreu ao dar à luz o futuro rei, D. Fernando I de Portugal. Viúvo, D. Pedro, contra a vontade do pai, mandou D. Inês regressar do exílio e uniu-se a ela, provocando algum escândalo na corte e desgosto para de seu pai. Começou então uma desavença entre o rei e o infante.

D. Afonso IV tentou remediar a situação tentando casar o seu filho com uma dama de sangue real. Mas D. Pedro rejeitou este projeto, alegando que sentia ainda muito a perda de sua mulher, D. Constança, e que não conseguia ainda pensar num novo casamento.

No entanto, D. Inês foi tendo filhos de D. Pedro: Afonso em 1346 (que morreu pouco depois de nascer), João em 1349, Dinis em 1354 e Beatriz em 1347. O nascimento destes veio agudizar a situação porque, durante o reinado de D. Dinis, o seu filho e herdeiro D. Afonso IV sentira-se em risco de ser preterido na sucessão ao trono por um dos filhos bastardos do seu pai.

Agora circulavam boatos de que os Castros conspiravam para assassinar o infante D. Fernando, legítimo herdeiro de D. Pedro, para o trono português passar para o filho mais velho de D. Inês de Castro. Não passavam de boatos plantados pelos fidalgos da corte portuguesa, vez que D. Fernando I assumiu o trono, como previamente esperado.

Havia boatos de que o Príncipe se tinha casado secretamente com D. Inês, facto confirmado por D. Pedro I na famosa Declaração de Cantanhede. Na Família Real um incidente deste tipo assumia graves implicações políticas.

Casamento secreto de Pedro e Inês

Depois de alguns anos no Norte de Portugal, Pedro e Inês tinham regressado a Coimbra e instalaram-se no Paço de Santa Clara. Mandado construir pela avó de D. Pedro, a Rainha Santa Isabel, foi neste paço que esta Rainha vivera os últimos anos, deixando expresso o desejo que se tornasse na habitação exclusiva de reis e príncipes seus descendentes, com as suas esposas legítimas.

Afonso IV tentou por diversas vezes organizar um terceiro casamento para o seu filho, com princesa de sangue real, mas Pedro recusa tomar outra mulher que não Inês.

O rei D. Afonso IV rodeado dos seus conselheiros, Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco, deslocaram-se ao Mosteiro de Santa Clara para assassinar D. Inês.

O único filho legítimo de Pedro, o futuro rei Fernando I de Portugal, mostrava-se uma criança frágil, enquanto que os bastardos de Inês prometiam chegar à idade adulta. A nobreza portuguesa começava a inquietar-se com a crescente influência castelhana sobre o futuro rei. Tudo levava a crer que a Coroa sofreria um golpe espanhol.

Em 7 de Janeiro de 1355, D. Afonso cede às pressões de seus conselheiros, e aproveitando a ausência de D. Pedro numa excursão de caça, assina a sentença de morte de D. Inês.

Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco dirigiram-se ao Mosteiro de Santa Clara em Coimbra, onde Inês se encontrava e a justiçaram, degolando-a.

Como reza a lenda, sua morte terá originado a cor avermelhada das águas que correm nesse local da Quinta das Lágrimas em Coimbra.

Quinta das Lágrimas – Coimbra (Fonte dos Amores).

Apesar de o príncipe ter coabitado com Inês por vários anos no Paço de Santa Clara, a tradição popular afirma que, para com ela comunicar, D. Pedro usava um cano que corria da Quinta das Lágrimas até perto do convento das clarissas.

Diz-se que colocava as cartas em barquinhos de madeira que, depois, a água proveniente dessa fonte, a Fonte dos Amores, se encarregava de transportar.

Na Quinta das Lágrimas existe também uma Fonte das Lágrimas (Fonte dos Amores), cujas águas terão, segundo a lenda, tido origem nas lágrimas vertidas por Inês quando foi assassinada. O sangue do seu corpo terá deixado uma mancha de algas avermelhadas na rocha, visível ainda hoje.

 

D. Pedro I revoltou-se contra o Rei, seu pai!

Como é óbvio, a morte de Inês não trouxe Pedro para mais próximo do pai, pelo contrário, o herdeiro revoltou-se contra Afonso IV, que responsabilizou pela morte, e mais uma vez pai e filho ficaram em campos opostos numa guerra civil. A Rainha Dona Brites intervém e após meses de escaramuças, a paz é selada em Agosto de 1355.

D. Pedro torna-se Rei de Portugal!

Pedro tornou-se o oitavo rei de Portugal em 1357. Em Junho de 1360 faz a famosa declaração de Cantanhede, legitimando os filhos ao afirmar que se havia casado secretamente com Inês, em 1354 “…em dia que não se lembrava…”.

A palavra do rei, do seu capelão e de um seu criado foram as provas necessárias para legalizar esse casamento.

Quando subiu ao trono D. Pedro I faz dela rainha.

Como Inês de Castro se tornou rainha depois de morta?

Como explicado anteriormente, Inês de Castro era uma aia da rainha, mas isso não impediu que – até ao dia do seu assassinato -tivesse uma longa relação com o príncipe D. Pedro.

Seis anos após o assassinato, ao subir ao trono D. Pedro conseguiu que outro Pedro, o Cruel, rei de Castela, lhe entregasse os homicidas, que para lá fugiram, pois os dois monarcas tinham um pacto de devolver um ao outro os respectivos inimigos.

Perseguiu os assassinos de D. Inês, e mandou destruir a Vila do Jarmelo. Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves foram apanhados e executados em Santarém (segundo a lenda o Rei mandou arrancar o coração de um pelo peito e o do outro pelas costas, assistindo à execução enquanto se banqueteava, o que é confirmado por Fernão Lopes, com a ressalva de que o carrasco o teria dissuadido da ideia pela dificuldade encontrada nesta forma de execução).

Diogo Lopes Pacheco conseguiu escapar para a França e, posteriormente, seria perdoado pelo Rei no seu leito de morte.

Depois, D. Pedro mandou construir os dois esplêndidos túmulos de D. Pedro I e de D. Inês de Castro no Mosteiro de Alcobaça, para onde trasladou o corpo da sua amada Inês, em 1361 ou 1362.

Túmulo de Inês de Castro

Túmulo de D. Pedro I

O Rei faleceu e juntou-se a ela em 1367. A posição primeira dos túmulos foi lado a lado, de pés virados a nascente, em frente da primeira capela do transepto sul, então dedicada a São Bento.

Na década de 80 do século dezoito, os túmulos foram mudados para o recém construído panteão real, onde foram colocados frente a frente. Em 1956 foram mudados para a sua actual posição, D. Pedro no transepto sul e D. Inês no transepto norte, frente a frente. Quando os túmulos, no século XVIII, foram colocados frente a frente apareceu a lenda que assim estavam para que D. Pedro e D. Inês…

«possam olhar-se nos olhos quando despertarem no dia do juízo final».

A tétrica cerimónia da coroação e do beija mão à Rainha D. Inês, já morta, que D. Pedro pretensamente teria imposto à sua corte e que tornar-se-ia numa das imagens mais vívidas no imaginário popular, foi inserida nas narrativas do final do século XVI, depois de Camões escrever em seu Canto III, a tragédia da Linda Inês.

 

……The End………………………………………………………………………………………..

Os Lusíadas é uma obra de poesia épica do escritor português Luís Vaz de Camões, considerada a “epopeia portuguesa por excelência”. Provavelmente concluída em 1556, foi publicada pela primeira vez em 1572 no período literário do classicismo, três anos após o regresso do autor do Oriente.

 

 

Camões em Os Lusíadas, relata assim:

Episódio de Dona Inês de Castro
(Os Lusíadas, Canto III, 118 a 135)

Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.

Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.

Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fernosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.

De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,

Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte ladina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra hûa fraca dama delicada?

Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,

Pera o céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos);
E despois, nos mininos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfindade como mãe temia,
Pera o avô cruel assi dizia:

(Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento
Como co a mãe de Nino já mostraram,
E cos irmãos que Roma edificaram:

ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar hûa donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.

E se, vencendo a Maura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida, com clemência,
A quem peja perdê-la não fez erro.
Mas, se to assi merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.

Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, co amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.)

Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra hûa dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais e cavaleiros?

Qual contra a linda moça Polycena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela, os olhos, com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha),
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:

Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que despois a fez Rainha,
As espadas banhando e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, fervidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.

Bem puderas, ó Sol, da vista destes,
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia !
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes.

Assi como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lacivas maltratada
Da minina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co a doce vida.

As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores.

 

 

[instagram-feed][/vc_column_text][mk_button size=”xx-large” icon=”mk-icon-arrow-right” icon_anim=”vertical” url=”https://dnacidadania.com.br/antigo/quero-minha-cidadania-portuguesa/” nofollow=”true” align=”center” fullwidth=”true”]Quero Minha Cidadania Portuguesa[/mk_button][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]

 

 

 

 

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]


Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *